segunda-feira, 15 de junho de 2015

Contos populares

Histórias que relatam as vidas de príncipes e princesas que moram em um mundo mágico, repleto de fantasia, como fadas, magia e florestas encantadas, fazem parte da imaginação de muitas crianças. Isso ocorre em diferentes regiões do planeta. No Brasil não podia ser diferente. Boa parte dos meninos e meninas do país são agraciadas com as histórias dos contos de fadas. Afinal, o tão famoso “Era uma vez...” faz parte do repertório popular e é difícil encontrar quem nunca o ouviu.

O que poucos sabem é que essas histórias vão muito além de aventuras fantásticas em um mundo distante, como muitos creem. Os contos populares remetem o leitor – ou ouvinte, como é melhor dizer, já que essas crônicas chegaram aos nossos dias através da via oral – a uma tradição mística muito antiga.

A tradição primordial, como é possível dizer, chegou ao mundo atual de duas formas bem distintas. A primeira, pelas raízes sacerdotais, em livros como a Bíblia, os Vedas ou o Corão. Como o próprio nome diz, os responsáveis por transmitir os ensinamentos antigos eram os sacerdotes das grandes religiões. Mas houve outra forma dessas lições serem transmitidas ao povo. Essa forma era através dos contos populares.

O que comprova a origem comum – e iniciática – dessas histórias é a grande similaridade em alguns de seus aspectos. Geralmente, existe uma alusão à busca por algo perdido ou oculto, tal como o Santo Graal, a Pedra Filosofal dos alquimistas, ou o Soma hindu. Essa busca é a procura pelo estado primordial, pelo laço com a tradição que é preciso ser reestabelecido. Assim, é comum encontrar narrativas em que o herói parta em busca de um país desconhecido, um objeto escondido, ou uma princesa desaparecida.    

Outra similaridade entre os contos é a passagem, do herói, por provas e viagens até encontrar aquilo que busca. Esta etapa pode ser comparada ao despertar provocado pelo beijo iniciático. E, falando sobre beijos, vale destacar os finais dos contos em que aparece algum casamento. Trata-se de um paralelo com a união sagrada do hierogamos – tradição primitiva de diversos povos antigos na qual um futuro rei se unia numa relação sexual com uma sacerdotisa – representando os princípios masculino e feminino, humano e divino, o bem e o mal.

Em contraste com as literaturas clássicas que relatam a trajetória do herói – sua ascensão e queda – os contos populares não têm essa pretensão de serem didáticos. A aparente falta de sentido em relação às tradições é, na verdade, uma deixa para que se sobressaia o sentido simbólico das histórias.  

Um detalhe válido de relatar é que, antigamente, os contos não tinham essa roupagem moralista e infantil como se vê hoje. Eles, pelo contrário, eram contados por adultos e para adultos, pois abordavam temas polêmicos, como: adultério, sexo, rapto de crianças, bruxaria, canibalismo e outros assuntos que assustariam qualquer homem crescido, quanto mais uma criança.

Pode se dizer que os contos populares representam o sobrenatural em estado puro. Esteja preparado, portanto, antes de narrar aos seus filhos qualquer conto de fadas, pretensamente ingênuo. Procure nessas histórias o significado de seu simbolismo, pois você pode se surpreender ou se apaixonar por todo ocultismo que as envolve.

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Ferramentas para plenitude (artigo escrito para Revista Caminho Espiritual 36)

Práticas para a meditação, reza, contemplação e oração. Passos importantes para alcançar e conquistar a realização espiritual.

A espiritualidade é um dos mais importantes fundamentos para um caminho de paz, felicidade e contentamento profundo. Muitos a buscam. Poucos a encontram. Isso porque ela está intimamente ligada a uma profunda felicidade e isso não é obtido nem com dinheiro nem com qualquer objeto físico.

Existem muitos caminhos para alcançar a espiritualidade. Seguir essas rotas, no entanto, é um desafio. As pessoas encontram muitas barreiras que as impedem de evoluir espiritualmente e as deixam apegadas ao que é material: o dinheiro, um novo modelo de carro, uma droga viciante, prazeres carnais, enfim, perigosos deleites que fazem muita gente se perder da via evolutiva.

É natural se divertir, sorrir e ser feliz com a prosperidade. Isso é até recomendado para quem quer ter uma vida saudável. Ser espiritualmente elevado, porém, independe da condição financeira. É algo muito mais profundo e varia de pessoa para pessoa.

Um estudo dessas condições já foi feito por muitos que têm na espiritualidade seu objetivo de vida, como monges, freiras e sacerdotes de diferentes cultos e religiões. O que se aprendeu foi a prática de quatro atividades que se assemelham e confundem-se uma com as outras. São elas: oração, reza, contemplação e meditação.

Na realidade, essas quatro palavras são muito subjetivas, o que faz com que cada uma represente diversos atos que o ser humano pode realizar quando deseja “conversar” com Deus ou ficar em paz consigo mesmo.

Essas ações exigem esforço e dedicação de quem as realiza. Por isso, é importante reservar um determinado tempo para praticá-las. Além, é claro, de escolher um local especial, que fique longe de tumultos e confusões, para que a mente e o espírito possam fluir livremente sem as amarras do mundo material.

Reza

Diversos povos, em diferentes países, utilizam ou já utilizaram a prática de rezar como algo arraigado em suas culturas. Aqueles que acreditam em um ou mais deuses sentem a necessidade de se comunicar com eles e a forma mais básica de fazer isso é rezando.

Essa prática varia de religião para religião e de Deus para Deus (no caso de politeísmo). No Islamismo, por exemplo, o fiel deve se voltar para Meca e rezar apenas em locais limpos. No Judaísmo, é obrigatório o uso do solidéu ou quipá. E no Catolicismo utiliza-se o sinal da cruz para iniciar e terminar uma oração.

É muito comum, também, rezar para se comunicar com os espíritos, no geral de familiares já mortos. Quem utiliza essa prática, normalmente, são as religiões ou seitas espíritas, como o Kardecismo e as religiões de origem africana. Mas, também no Catolicismo há uma data especial para lembrar os mortos, o dia de finados, que acontece em 2 de novembro.

Existe uma polêmica quanto aos verbos rezar e orar. Pelas definições dos dicionários um dos significados de rezar é: realizar orações. Essas palavras são sinônimas, porém, para os protestantes (evangélicos) não representam a mesma coisa. Para eles, rezar é apenas repetir uma oração já pronta, como, por exemplo, a Ave Maria. Não há valor nisso, ao contrário de orar que, segundo eles, é uma forma de se louvar a Deus. Já para os católicos rezar é entendido num sentido mais amplo e genérico e a oração é uma forma de se rezar, que pode ser através da contemplação, da oração mental, da meditação, entre outras.

Oração

A oração é uma prática fundamental para quem deseja elevar a espiritualidade. Através dela, o ser humano comunga com Deus, purifica e alimenta sua alma. Mas, para conseguir esses e outros benefícios não basta ler ou entoar friamente versos prontos ou criados na hora. Para orar é preciso atenção. É importante não se distrair ou deixar a mente vagar. Quando se atinge o estado de concentração necessário o próprio coração se regozija.

Engana-se, no entanto, quem imagina que a oração é feita somente de arrependimento, contrição e súplicas. Também é válido realizar louvores, bendições, adorações, agradecimentos e deixar de lado qualquer sentimento que machuca a alma.

Dentro da tradição judaico-cristã, para uma boa oração é preciso aprender a conversar com Deus, falar das necessidades, erros, dificuldades; pedir para que emoções e pensamentos sejam purificados; suplicar por virtudes, iluminação, compreensão dos defeitos; expressar gratidão, etc.

Há obstáculos, porém, para quem está começando a orar. Para ultrapassá-los é necessário conhecê-los.

Saiba planejar o tempo para a oração

O primeiro deles é querer iniciar com orações que durem longos períodos de tempo. São muitas as chances de dar errado. Principalmente porque quando não se tem o hábito de orar o passar do tempo implica em dispersão do pensamento. Por isso, o início deve ser feito de forma gradativa. Primeiro, quinze minutos. Depois, pode-se aumentar o tempo para meia hora e, conforme o desenvolvimento, praticar a oração pelo tempo desejado para usufruí-la ao máximo.

A preguiça, a falta de uma posição confortável e um local inadequado são obstáculos fáceis de superar, ao contrário das faltas de: costume, interesse, vontade, satisfação e contentamento; que são barreiras fortes e comuns. Ter expectativas fantasiosas também é prejudicial, pois, apesar da prática espiritual dar resultados – e ela sempre os dá – se eles não forem o imaginado, um sentimento de frustração pode pesar contra ela.

Preparo e concentração

Se preparar adequadamente durante o dia é fundamental. É necessário aprender a relaxar e se concentrar. Sem isso a prática de orar se torna nula. Entre as diferentes formas de desenvolver a concentração, a oração incessante é uma das mais eficazes. Ela é um método que, aos poucos, proporciona tranquilidade, paz de espírito, felicidade, satisfação e contentamento. Essa prática consiste em escolher uma palavra, frase ou oração (inspirada nas Sagradas Escrituras) e repeti-la constantemente, como, por exemplo, é feito ao se rezar o terço. A conquista de resultados depende diretamente da persistência e frequência com que se pratica a oração incessante.

Outra forma de se rezar é fazer a oração mental. Trata-se de direcionar a mente para estar apenas com Deus, sem buscar as coisas do mundo. Através desse método uma oração como o Pai Nosso, por exemplo, pode durar cerca de uma hora. Pois, cada palavra que a compõe é refletida, meditada e sentida profundamente.

Os graus de oração

Santa Teresa de Ávila dividiu as orações em quatro graus:

1° grau – No primeiro, há muito esforço e sofrimento para se manter em oração. Pois, as emoções estão reprimidas e ainda se está preso aos estímulos externos. Há um esforço mental desgastante e cansativo. A alma está distante de Deus. Afastar-se dos desejos mundanos é muito difícil para a maioria das pessoas, mas é preciso ter paciência e persistir. Nenhum esforço é inútil.

Nesse grau inicia-se a tentativa de falar com Deus sem orações formais, mas com o coração. As palavras correspondem ao que se sente no íntimo, conforme as necessidades, aflições, inquietudes e outras sensações. Esse começo de caminho culminará no amor divino.

2° grau – Esse grau pode ser chamado de oração de quietude. Nele, se deseja solidão, silêncio e recolhimento. Surge uma grande fome e sede de Deus. Suas principais características são a paz, a felicidade, a satisfação e um silêncio cheio de contentamento. Nesse estágio, a mente ainda é instável e pode-se sair do estado de oração facilmente, basta um movimento de pensamento, memória ou imaginação.

Esse estágio de prática de oração se assemelha a algumas técnicas de meditação oriental.


3° grau – Nesse grau a quietude da alma fica muito mais forte. O pensamento, a memória e a imaginação ficam suspensas. Pode ser que um medo de deixar a mente nesse estado atrapalhe a oração. Mas quando ele é atingido não há mais distrações. A suavidade, a paz, a felicidade e o contentamento são muito maiores do que no grau anterior.

É semelhante a um estado meditativo profundo.

4° grau – Esse é um grau de uma união mais estável com Deus. Todo o arrebatamento, as sensações de bem estar e felicidade são muito maiores nesse nível. A mente entra num transe extático. Talvez esse estágio se assemelhe ao samadhi hindu ou nirvana budista.

Passar de um grau a outro pode demorar, por isso é preciso ter paciência. Mas, conforme se atinge os graus superiores, é importante não se esquecer da humildade e das virtudes que se desenvolvem com a prática da oração. De nada vale atingir um êxtase de espírito, se as ações que realizar não condizerem com suas práticas espirituais.

Contemplação

Contemplar pode ser definido como observar. Mas não é apenas olhar. Para contemplar é preciso mais. É necessário que a mente e o coração se tomem daquilo que está sendo observado, até não haver mais nada ao redor que atrapalhe esse processo. Pode-se entender a contemplação como um dos diferentes tipos de oração. Pois, quando se está contemplando uma imagem, seja ela da natureza ou construída pelo homem, uma sensação agradável, que remete a Deus é sentida.

Não são apenas os espiritualistas cristãos, budistas, taoístas e hindus que utilizam a contemplação. Ela pode ser encontrada nos exercícios que os cabalistas judeus usam para meditar. Na Cabala, uma das formas de entrar em contato com a divindade é escanear com os olhos os 72 nomes de Deus. Geralmente, escolhe-se um desses nomes e passa-se um determinado tempo observando-o.

Mas não é fácil se entregar à prática de contemplar. Para isso, é preciso muita concentração. O pensamento pode voar enquanto se está olhando para uma imagem, principalmente se ela for estática. A contemplação requer que não só a vista fique centrada na imagem, mas, também, o pensamento. É comum que distrações aconteçam, porém, com o tempo, aprende-se a ter concentração.

Meditação

A meditação não foi exclusividade de um único povo. Diversas civilizações possuíam uma, ou mais, técnicas para refletir e se voltar ao centro de si mesmo (essa, aliás, é a definição em latim da palavra meditare). Assim, hindus, budistas, maias, incas, hebreus e muitos outros povos já utilizavam a meditação. E, hoje, essa prática está presente em praticamente todas as nações. 

São muitas as formas de meditar. Talvez, uma das técnicas mais comuns seja a de focar o pensamento em um único ponto, objeto ou ação, como a respiração, por exemplo. Mas essa não é a única.

Entre os chineses existe uma técnica (que pode ser considerada também como arte marcial) chamada de Tai Chi Chuan. Trata-se de executar, lentamente, movimentos inspirados na natureza. Os benefícios dessa técnica são tantos que, hoje em dia, ela é amplamente difundida nos países ocidentais. Pode-se dizer que o Tai Chi Chuan é uma meditação em movimento.

Outra técnica muito eficiente é um exercício chamado de Pilar do Meio. Trata-se da visualização de um pilar luminoso que desce do céu e passa pelo meio do corpo, atingindo os principais chacras, enquanto se entoa os nomes de Deus em hebraico. Essa prática ficou conhecida pois era uma das formas de adquirir energia para realizações de rituais da Ordem mística Golden Dawn.

Comece a praticar

Os significados de orar, rezar, contemplar e meditar estão enraizados um no outro. As semelhanças são enormes. Pode-se rezar orando, contemplando ou meditando. Assim como se pode meditar através da contemplação e oração, ou orar por meio da contemplação.

As quatro técnicas são importantes para o ser humano. Por isso, são essenciais a todos que desejam aproximar-se da divindade. Entretanto, não basta fechar-se numa redoma e imaginar que realizando cada uma das quatro ações já se está evoluído. Para que isso aconteça é necessário desenvolver as virtudes no convívio com a sociedade e praticar ações coerentes com os princípios do bem, de si próprio e do próximo.

segunda-feira, 23 de março de 2015

Jihad

É com grande preocupação e alarme que vejo as notícias sobre o oriente médio nesses últimos meses. A região já há algumas décadas tem se mostrado instável. Aliás, se for feita uma análise, mesmo que superficial, se perceberá que aquela área sempre foi palco para diversas guerras e conflitos. Nesses últimos anos, porém, entrou em atividade um grupo terrorista que impressiona pela crueldade e radicalismo.  Trata-se do Estado Islâmico.

Esse grupo se originou no Iraque, no vácuo de poder deixado por Saddam Hussein e pela incompetência norte-americana de gerir os territórios conquistados através de guerras na região. Haja vista o que aconteceu no Afeganistão, que ainda não se recuperou da Guerra ao Terror e sofre com os constantes ataques terroristas detonados pelo Taleban e Al Qaeda. Mas, voltando ao Estado Islâmico, pode-se dizer que ele adquiriu grande poder após a Guerra do Iraque. Soma-se a isso outra ação diplomática equivocada dos Estados Unidos, a de apoiar a guerra civil na Síria. Esse conflito foi determinante para o crescimento do Estado Islâmico.

Aos poucos esse grupo conquistou diversos territórios na Síria e de lá se espalhou pelo Islã, principalmente pelos países da primavera árabe. De origem sunita o Estado Islâmico se propõe a ser um califado com autoridade sobre todos os países muçulmanos. Seus atos mais sangrentos são o de sequestrar estrangeiros e degolá-los na frente de uma câmera de TV. Recentemente, eles abriram fogo em um museu de Túnis, na Tunísia, e mataram oito pessoas. Na Líbia, degolaram um grupo de cristãos coptas que moravam no Egito. Outro ataque que merece destaque é a destruição de peças antigas em museus do Iraque e da Síria. Centenas de artefatos foram roubados e vendidos no mercado negro, outras dezenas de esculturas da antiguidade foram destruídas.

Brigada cristã no Iraque (Foto: AFP Photo/Safin Hamed)
Para combater o Estado Islâmico formou-se no Iraque, na cidade de Nínive, a primeira brigada cristã do oriente médio. Trata-se de 600 voluntários que receberam treinamento militar e se dispuseram a reconquistar cidades cristãs ocupadas pelo grupo terrorista. Isso, num primeiro momento, pode ser visto com otimismo. Mas, se tratando o Oriente Médio, todo receio é pouco. A formação de exércitos de acordo com uma religião é um retrocesso. Voltamos à Idade Média. Pensar em novas cruzadas contra o inimigo muçulmano é perigoso já que, como acontece frequentemente, a guerra religiosa resulta em mais ódio e daí para o aumento do terrorismo é apenas um passo.

Ainda assim, concordo que os cristãos não podem permanecer desprotegidos. Pois corre-se o risco de serem totalmente eliminados da região. Ou seja, eles não podem depender somente da vontade dos governantes de lutar contra o inimigo terrorista. Agir passivamente pode representar um suicídio.  Por outro lado, no futuro, podem-se transformar em um novo grupo sectário e separatista, aumentando ainda mais a instabilidade na região.

A solução para esse conflito está longe de ser visualizada. Intervenções militares, por países ocidentais, não se revelaram eficientes, já que essas nações já provaram desconhecer o território e a cabeça dos jihadistas. Além disso, há sempre o risco de serem retaliadas em seus próprios territórios por ataques terroristas. Para conseguir amenizar a situação nesses países do Oriente Médio a democracia revelou-se ineficaz. Parece que a melhor maneira é a subida ao poder de um governo forte o suficiente para ser repressor contra terroristas e, ao mesmo tempo, presente no coração dos cidadãos. E isso, infelizmente, ainda está longe de acontecer.

domingo, 1 de março de 2015

Março, a Mulher e a Wicca

Março é o mês das mulheres. Mais precisamente no dia 8 quando é comemorado o dia internacional da mulher. Essa data lembra a importância da presença feminina na sociedade e de quão necessário é protegê-la do machismo, violência e preconceitos de gênero, ainda muito comuns, mesmo nesse novo século.

As mulheres aos poucos estão conquistando um espaço que era exclusivo dos homens. Hoje elas estão na direção de grandes empresas e nações, e adquiriram hábitos que até pouco tempo eram praticados somente por homens. Isso ocorre no mercado de trabalho, nos esportes, no meio social, enfim, ainda que lentamente, uma nova sociedade se forma.

No universo esotérico, entretanto, as mulheres sempre estiveram em uma posição de destaque. Basta observar os Mistérios de Eleusis, cidade grega que adorava as deusas Deméter e Perséfone. Ambas relacionadas às colheitas. Ao que parece, seu culto teria se iniciado no Egito e depois levado à Grécia. Os ritos dedicados a essas deusas teriam sido os mais importantes da antiguidade ocidental. Tanto que foram adotados pelos romanos e as deusas renomeadas para Ceres e Proserpina. Com o catolicismo, porém, a importância da mulher ficou em segundo plano. Ainda assim, a Igreja conseguiu transformar a adoração de deusas no culto a Maria, a virgem, e em outras santas célebres como, por exemplo, santa Sara de Cali.  

Nos dias atuais existe uma religião chamada Wicca, na qual a mulher tem uma especial importância. No topo do panteão de seus deuses situam-se a Grande Deusa Mãe e seu filho e consorte o Deus Cornífero. A Wicca é uma manifestação contemporânea da velha religião dos celtas, um povo que habitou a Europa na antiguidade. A tradição dessa sociedade era extremamente matriarcal, daí a importância da Grande Deusa que, como uma mãe, dava a seus filhos proteção e alimentação. Não à toa ela era responsável pelas boas colheitas. Em troca seus sacerdotes – os druidas – e as sacerdotisas realizavam rituais de magia, celebração e adoração. O casamento sagrado, ou hieros gamos, também era praticado por esse povo. Esse ritual consistia numa relação sexual em que um dos parceiros simbolizaria a Deusa e o outro seria o Deus. Esse assunto é tratado em dois grandes Best-sellers mundiais: As Brumas de Avalon e O Código da Vinci.      
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Voltando à Wicca, ela é, inclusive, mais antiga que o cristianismo. Segundo alguns estudos arqueológicos ela teria se iniciado ainda na pré-história. Durante a Idade Média essa religião foi duramente reprimida – milhares de pessoas morreram nas fogueiras da Inquisição acusadas de bruxaria. Com o ódio contra o feminino fomentado pela religião católica, as maiores vítimas do Tribunal do Santo Ofício foram as mulheres. Essa situação perdurou até a Idade Contemporânea, basta lembrar como exemplo o julgamento feito na cidade de Salem, nos Estados Unidos. Muitas pessoas foram enforcadas acusadas de pacto com demônios, rapto e assassinato de crianças, entre outros motivos.   

Felizmente hoje a Wicca e quaisquer outras religiões podem ser praticadas com segurança e respeito, pelo menos no mundo ocidental, já que em alguns territórios controlados pelo Estado Islâmico há uma terrível perseguição contra quem não segue o islamismo, como os cristãos da Síria e Egito, por exemplo.


Independente de qual manifestação religiosa é a mulher o mais importante é que ela seja tratada com muito respeito, carinho e amor. Pois todas as mulheres são especiais e não importa em qual posição social que se encontre – seja como mães, filhas, esposas ou amigas – elas são o motor que movimenta os homens e o mundo.   

domingo, 8 de fevereiro de 2015

Gnose

Quando se fala em Gnose é comum pensar que se trata de uma corrente cristã dos três primeiros séculos. Essa afirmação, no entanto, se aplica apenas a um ramo do gnosticismo. A Gnose é uma corrente de pensamento mais antiga e mais abrangente do que o cristianismo. Pode-se encontrar sua essência entre as religiões egípcias, frígias, judaicas, persas e babilônicas.

Na Gnose os discípulos não ficavam presos aos ensinamentos de seus mestres, pelo contrário, havia a liberdade de mudarem ou adaptarem as lições de acordo com as experiências que vivenciavam. Assim como as crenças orientais foram influenciadas pelas culturas e religiões grega e romana.

Em parte, a busca dos gnósticos era compreender e alcançar as verdades do mundo. Porém, não no sentido exclusivamente filosófico, ausentando o pensamento religioso dessa explicação. Pelo contrário, eles procuravam combinar a religião com os conhecimentos do universo para, assim, conseguirem chegar a alguma revelação.

Uma das características da Gnose é que seus praticantes desejavam entrar em contato com a divindade não somente pelos princípios morais ou pela fé, mas sim, pelo pensamento, conhecimento, imaginação e sentimento. Esse processo não era puramente intelectual. Como a Gnose é algo do mundo espiritual, é de uma forma espiritual que o ser humano a alcançará e terá a Revelação. O gnóstico é aquele que conhece e compreende a Revelação interior e exterior a ele.

A Gnose é como um poder ou virtude e também pode ser chamada de fé. Na escola trimegística a fé é a compreensão ou percepção espiritual. Ela é a síntese das sete virtudes ou poderes espirituais, que são: Gnose, contentamento, autocontrole, moderação, retidão, comunhão com tudo que existe e verdade.

A Gnose é uma dádiva de Deus, mas, mesmo sendo de origem Divina, ela é uma graça do espírito e pode ser passada adiante. Nada atrapalha o homem em Gnose, pois ele é capaz de transpassar o mal que lhe aflige numa força só encontrada no bem. E a visão do Bem é acompanhada por uma sensação de êxtase do senso corporal.

A Gnose só pode ser operada através da morte mística, em que o gnóstico realiza uma transmutação através de si mesmo para renascer com a natureza espiritual de um Deus. No entanto, essa natureza só poderia ser alcançada se a alma passasse pelos mesmos processos de transformações que o mundo. Daí o interesse nos mistérios do Cosmo. Mas não pode se esquecer que conhecer os mistérios do mundo é apenas o começo, e não o fim por si só. O caminho, ou senda, para a Gnose é gradual e espiritual. Mas não é preciso morrer para atingi-lo e sim eliminar os vícios que nos prendem à matéria.

Escolas Gnósticas

O gnosticismo pode ser encontrado em, basicamente, duas vertentes. Uma delas é a escola persa, com a influência dos pensamentos de Zoroastro. A outra é a sírio egípcia, com suas doutrinas tendendo ao monoteísmo.

Dentro da escola persa é possível encontrar duas correntes de pensamento, o mandeísmo e o maniqueísmo. Os mandeístas acreditam em João Batista como seu Messias e têm o hábito do batismo. Essa crença é anterior ao cristianismo, mas ainda hoje são encontrados grupos que nela creem, principalmente no Iraque. Já o maniqueísmo foi uma doutrina criada pelo profeta Mani, no século III. Para criá-la Mani foi buscar influências no zoroatrismo, budismo, hinduísmo e cristianismo. De acordo com seus ensinamentos, haveria dois Deuses, uma divindade boa e outra má, sendo que a má era responsável por criar o mundo material. Mani foi crucificado e seus discípulos perseguidos. Essa religião durou até a Idade Média.

Outras escolas, correntes ou grupos gnósticos são os seguidores de Cerinto, um homem que pregava que Cristo era um espírito celeste, diferente do homem Jesus. Além disso, acreditava no Demiurgo como uma entidade do mal e criador do mundo material – outras correntes gnósticas também tinham essa crença – e na segunda vinda do Messias. Mas essa não foi a única corrente gnóstica que apareceu no mundo. Ainda existiam: os Ofitas, que acreditavam na serpente do Gênesis como fonte de conhecimento; os Cainitas que seguiam a Caim; os Carpocracianos; os Borboritas; os Bogomilos; e os Cátaros. Sendo que esses dois últimos, ocorreram na Idade Média e foram duramente reprimidos pela Igreja.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Enoque e sua simbologia

O nome Enoque aparece na Bíblia sendo duas pessoas diferentes. Primeiro ele é filho de Caim que, após sua concepção, construiu uma cidade com o seu nome. Depois, Enoque surge como um dos patriarcas antidiluvianos. Ele é filho de Jared e pai de Matusalém. Viveu na superfície da Terra por 365 anos. Um número que pode parecer alto para os padrões humanos, mas que se comparado à idade dos outros patriarcas é muito baixo, haja vista seu filho, Matusalém, que viveu 969 anos.

A pouca idade, entretanto, não é o maior mistério que o ronda. No relato bíblico, ao contrário de seus antepassados e descendentes, não há uma só palavra que diga que Enoque morreu. Isso mesmo. A Bíblia não fala de sua morte. As escrituras dizem que ele andou com Deus e depois de 365 anos este o arrebatou. Trata-se de um dos poucos casos em todo texto bíblico de que um personagem não morre e anda com Deus ainda em vida. Tudo bem, o Gênesis, assim como praticamente toda a Bíblia, é um livro que se utiliza de símbolos ao invés de retratar a verdade histórica. Sendo assim, falar se Enoque morreu, ou não, pode parecer inútil. Mas não é. Pois se tratando de símbolos o fato de ele ser uma exceção representa um significado, simbólico mas existente.

Talvez a resposta para esse enigma esteja no Livro de Enoque. Nele, o autor narra a descida de alguns anjos ao planeta Terra para tomar como esposas as filhas dos homens. Ao fazerem isso, esses seres, comandados por Samyaza, ensinaram à humanidade diversos sortilégios. O mundo encheu-se de luxúria, depravações, derramamento de sangue e iniquidades. Mas Enoque permaneceu justo e bom e foi o enviado de Deus para conversar com os anjos e levar as ordens do altíssimo ao universo. O restante da história todos já conhecem. Deus eliminaria toda humanidade em um dilúvio e um descendente de Enoque – Noé – seria o escolhido para repovoar a Terra.

Alfabeto Enoquiano
Há outros mistérios sobre Enoque. Um, em especial, trata-se da magia enoquiana. Um tipo de magia que tem como objetivo invocar e evocar anjos. Mas não pense que anjos são esses seres bonzinhos com asinhas e prontos para te proteger dos perigos. Os seres angélicos da magia enoquiana são entidades antigas e muito poderosas. Para convocá-los é necessário utilizar símbolos complexos que são chamados de linguagem enoquiana. Esse tipo de magia veio à tona no século XVI através dos místicos e magos ingleses Edward Kelley e John Dee. Futuramente, nos séculos XIX e XX a Golden Dawn utilizou-se muito desse tipo de magia, assim como Aleister Crowley que se dizia a própria reencarnação de Kelley.

Edward Kelley
Tudo isso faz de Enoque um personagem mais do que misterioso, do tipo que merece ficar oculto, pois suas histórias, mais do que filosóficas ou teológicas, podem ser, acima de tudo, perigosas. Portanto, se essa matéria despertou seu interesse e, por isso, você deseja procurar mais a respeito, cuidado com o que busca em relação a Enoque, pois, para o bem ou para o mal, você pode encontrar.

(fontes: O Livro de Enoque e Bíblia de Jerusalém)
  


















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quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Milagres. Do inexplicável ao charlatanismo.

Milagres existem? Bom, se algum religioso ler isso certamente dirá que sim. Milagres existem e são feitos por mãos de santos ou, no caso de evangélicos, de bispos ou pastores.

A palavra milagre tem uma conotação muito interessante, já que, em muitos momentos, está relacionada à cura. Portanto, quando alguém adoece de algum mal que a medicina tradicional é incapaz de tratar, mas, ainda assim, se recupera ficando plenamente saudável, é comum dizer-se que ocorreu um milagre.

Os milagres ficaram conhecidos através dos relatos bíblicos sobre Jesus Cristo. Segundo a Bíblia, o rei dos judeus teria praticado curas, afastado demônios, ressuscitado um homem, multiplicado pães e peixes, andado sobre a água e feito uma série de outras transformações da realidade que não podem ser explicados pela ciência ou por um pensamento racional (Hoje a ciência ainda tenta explicá-los, mas o raciocínio lógico ainda diz que esses fatos não passam de crendices ou, na visão dos espiritualistas, de milagres).

Mas essa busca incessante por dar explicações aos fenômenos da natureza, ou daquilo que foge à realidade tornando-se sobrenatural, esteve sempre na cabeça do homem. A diferença é que nos séculos mais recentes a ciência ganhou uma predominância sobre as outras formas de conhecimento.
     
Até a Idade Média os conhecimentos científico, filosófico e esotérico possuíam praticamente as mesmas fontes. A ciência, a metafísica e o misticismo encontravam-se intrinsecamente ligados e todo o saber estava relacionado a eles. Logo, o que não era possível de se explicar com uma dessas três áreas de conhecimento era solucionado pelas outras duas. Hoje isso não ocorre mais. Sendo assim, a ciência não permite que a realidade seja explicada por meio da mitologia e até a filosofia está subordinada à forma de conhecimento determinada pelos cientificistas.

Esse predomínio da ciência sobre as outras áreas de conhecimento levou, inclusive, a Igreja Católica a adotar como milagres – realizados pelos Santos – somente os casos em que não é possível haver uma comprovação científica. Estando esgotadas todas possibilidades de explicações lógicas e racionais o feito só pode ter como origem a divindade e seus desígnios.

A ciência nesses casos é, de fato, uma importante ferramenta para separar aqueles que têm boa fé e acreditam nos milagres, daqueles de má índole que só querem enganar as pessoas e arrecadar mais dinheiro com suas Igrejas.  

Por isso é preciso estar atento, pois muitos dos que são descritos como milagres, ou seja, fatos sem a comprovação científica, são na verdade golpes aplicados por falsos profetas em uma população carente de explicações para seus sofrimentos ou para a própria existência.

Nesse caso, o milagre não é aquilo que a ciência não pode comprovar. Mas sim, o feito, ou fato, que a ciência prova não possuir outra explicação que não uma intervenção divina. Pode parecer confuso esse argumento, mas é mais fácil visualizá-lo com um exemplo: imagine que existe um sacerdote que afirma ser capaz de realizar milagres. Então para mostrar essa capacidade ele decide curar um paraplégico e, de fato, a pessoa levanta-se da cadeira de rodas e sai do local andando. Oras, antes de afirmar que ocorreu um milagre é necessário que a ciência comprove que essa pessoa era um deficiente e que realmente não possuía outra forma de recuperar o movimento das pernas a não ser que fosse por um milagre.       

Na maior parte dos casos esses acontecimentos não passam de uma fraude. Portanto, cabe a cada um estabelecer o seu senso crítico e não se deixar enganar facilmente por essas incontáveis Igrejas que se autodenominam portadoras da verdade e da palavra de Cristo. A ciência nesses casos deve ser compreendida como uma de muitas ferramentas para que cada cidadão se considere livre para crer ou não em milagres.